A Viagem
Quem nunca sonhou em realizar uma viagem ao redor do mundo?
O sonho
Provavelmente, esse pensamento já passou, pelo menos, uma vez, pela cabeça de todos nós. No mundo existem lugares tão lindos que, às vezes, só de olharmos uma foto já viajamos mentalmente. Muitas vezes, chegamos até a pensar: "O que estamos fazendo em frente ao computador ou, ao celular, quando existem tantas maravilhas para visitarmos!"
Imagine a emoção de poder apreciar a Aurora Boreal, em algum país da Escandinávia, de voar de balão na Capadócia, na Turquia, de navegar nos lagos de Plitvice, na Croácia, de mergulhar na Grande Barreira de Coral, na Austrália, de conhecer Santorini, na Grécia, de visitar The Wave, nos EUA ou de nadar nas águas azul-turquesa da ilha de Bora Bora, na Polinésia Francesa? Seria sensacional, não é mesmo?
Visitar esses e muitos outros lugares surreais que existem no mundo, seria uma oportunidade única, em nossas vidas, de interagir com diferentes culturas, de experimentar culinárias exóticas e de conhecer lugares e pessoas inesquecíveis. Certamente, essa fantástica experiência ampliaria e, em muito, nossa bagagem cultural.
No meu caso, como gosto de correr maratonas, durante a viagem teria a oportunidade de participar, se não das principais, pelo menos, daquelas "diferentonas" disputadas pelo mundo, como a do Sol da Meia Noite, na Noruega - para a qual já estou inscrito para correr em junho, a da Grande Muralha, na China, percorrendo mais de 3 mil degraus e, entre outras, a de Atenas, na Grécia, que foi o berço das maratonas.
E por que muitos não transformam esse sonho em realidade? Talvez por causa daquela estória de que a vida nos daria três presentes, porém, nunca conseguiríamos utilizar os três juntos. Quais foram eles? Lembram? Tempo, dinheiro e saúde. Esses mesmos!
De uma certa forma, a realização dos nossos sonhos está relacionada com essa estória. Se formos esperar o momento ideal, correremos o risco de nunca realizá-los. Por isso, nossa filosofia é a seguinte: como temos apenas uma vida, é melhor colocá-los em prática enquanto podemos, mesmo não conseguindo unir os três. Concordam?
Amyr Klink, navegador, escritor e palestrante, certa vez, disse: “Um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir.”
Inspirado nele, começamos a amadurecer a ideia de partir em uma viagem ao redor do mundo. No início, parecia algo muito distante, no entanto, com o passar do tempo, aquilo que era apenas um esboço, começou a se transformar em um desenho, que foi evoluindo e tomando contornos, até culminar com a arte final, que foi o momento em que decidimos transformar nosso sonho em realidade.
O planejamento
Com a decisão tomada de realizar a viagem, começamos o planejamento propriamente dito. Logo de início, percebemos que várias perguntas precisavam de respostas: Quantos países seriam visitados? Quanto tempo em cada país? Qual a duração estimada da viagem? Que tipo de veículo seria utilizado? Muitas perguntas, não é mesmo? Bem, pelo menos, na teoria, chegamos às respostas para todas elas.
De acordo com o planejamento, pretendemos visitar, aproximadamente, 100 países, distribuídos pelos cinco continentes e permanecer, em média, 12 dias em cada país. É claro que esta quantidade de dias não está fixada em nenhum calendário. Dependendo do nosso interesse ou das dimensões do país, poderemos ficar um tempo maior ou, quem sabe, menor. Na França, na Itália e nos Estados Unidos, por exemplo, pretendemos passar, no mínimo, dois meses em cada um deles.
Enfim, se mantivermos a média acima, totalizariam 1.200 dias, ou seja, algo em torno de três anos e alguns meses de viagem. Ah! Quanto ao veículo, decidimos utilizar um motorhome, conhecido por muitos como “casa sobre rodas”.
Respondidas as perguntas, chegou o momento de buscarmos informações para subsidiar a elaboração do projeto. As principais fontes foram a internet e os livros que tratam do assunto.
Através da primeira, durante vários dias e, algumas noites, navegamos em busca das informações que julgávamos necessárias. Encontramos uma vasta literatura em sites, blogs de viagens, etc. Todos contendo relatos de pessoas que já realizaram, estão realizando ou, ainda, estão planejando realizar uma viagem semelhante.
Quanto aos livros, pesquisamos e, adquirimos, alguns específicos sobre este tipo de viagem. É claro que se trata de uma literatura bastante reduzida, afinal de contas, não é todo o dia que tem alguém viajando ao redor do mundo, não é mesmo? Mas, aqueles que adquirimos foram extremamente úteis no fornecimento das informações que necessitávamos.
Entre eles, destacamos dois: Na direção de um sonho, de Murilo de Souza e Silva, que viajou com a família e utilizou um motorhome, tamanho grande (ônibus) e Challenging your dreams (Desafiando seus sonhos), de Robert Ager & Grace Downey, que utilizaram uma Land Rover (adaptada).
O itinerário
Antes do itinerário, um detalhe importante que tivemos que definir foi o tipo de viajante que entendemos ou, pretendemos, ser. Resumidamente, existem dois tipos: o estradeiro e o fora da estrada - off road. Não precisamos nem dizer que são estilos muito diferentes e que, consequentemente, utilizam meios de transportes totalmente distintos, pois, os veículos off roads realizam travessias até em desertos.
No nosso caso, entendemos que nos enquadramos mais no perfil de estradeiro e, por isso, optamos por viajar em uma van, que é um motorhome tamanho médio (furgão), por acreditar que, com este tipo de veículo, não teremos tantas dificuldades de deslocamento e de mobilidade, pelos locais que pretendemos visitar.
Quanto a definição do itinerário, embora tenha sido uma tarefa bastante interessante, não foi tão fácil quanto parece ser, obviamente, por se tratar de uma viagem ao redor do mundo.
Foram necessários alguns meses de estudo para elaborar um macro roteiro, pois existem inúmeras variáveis a serem analisadas. Para citar apenas algumas delas: os transbordos marítimos do motorhome entre continentes e, em alguns casos, entre países, por meio de navios e de ferryboats, os países e as datas das maratonas, os conflitos geopolíticos e de ordem militar existentes em alguns países, permanência legal na Europa, conforme o Acordo de Schengen e, por fim, os ajustes em relação às estações do ano, principalmente, o inverno e o verão.
É claro, já que estaremos viajando de motorhome, não seria nada agradável ter que passar o inverno no norte da Finlândia ou no Alasca. Por outro lado, durante os meses de verão, gostaríamos de passar, pelo menos, em algum balneário internacional como Saint-Tropez, na Riviera Francesa ou Ibiza, na costa espanhola, concordam?
Ainda em relação ao itinerário, na elaboração, definimos, inicialmente, um por continentes e, posteriormente, outro por países, evidentemente, dentro do respectivo continente.
Planejamos o roteiro por continentes, em três etapas:
- a primeira, será a Europa, com duração, aproximada, de 2 anos;
- a segunda, será o continente americano: Américas do Norte, Central e do Sul, em torno de 1 ano;
- a última, englobará a Oceania, a Ásia e a África, também com duração, aproximada, de 1 ano.
A opção de começar pelo continente europeu foi por questão de logística, pois, como pretendemos comprar o motorhome em Portugal, não teria sentido começar a viagem pelo Brasil.
Quanto à etapa européia, nela, excepcionalmente, pretendemos utilizar um segundo meio de transporte, o trem, para percorrermos a lendária Ferrovia Transiberiana, passando, se possível, pela China e pela Mongólia, além da Rússia, é claro.
Por fim, no segundo itinerário, após definirmos os países que pretendemos visitar, elaboramos as rotas internas com os principais pontos a serem visitados em cada um deles. Ah! Sempre que possível, optaremos por roteiros litorâneos, mesmo sabendo que, em alguns países, essa opção será inviável.
O veículo
No Brasil, por não existir no vocabulário nenhuma palavra que defina qual é o nome de uma "casa sobre rodas", costuma-se chamar de motorhome todo o veículo automotor que tenha uma casa acoplada sobre ele.
Na prática, o motorhome é um trailer montado sobre um chassi motorizado que poderá ser de um furgão, também chamado de van, de um micro-ônibus, de um ônibus ou, até mesmo de um off road - fora da estrada.
No nosso caso, como já comentamos, optaremos por uma van, por acreditar que ela atenderá nossas expectativas, ou seja: é ideal para 2 ou, no máximo, 4 pessoas, é considerada como um automóvel, tanto nos pedágios como na velocidade, é um veículo leve (3.500 kg), podendo ser dirigido com CNH categoria "B", é versátil e, além disso, é econômica, por ser movida a diesel.
Embora seja considerado um modelo intermediário da "família" dos motorhomes, a van não deixa nada a desejar, por exemplo, para uma kitchenette, pois, tem cama de casal, mesa, sofá, fogão, geladeira, banheiro com chuveiro, etc... enfim, tudo projetado para proporcionar o maior conforto possível para os passageiros.
Quanto à funcionalidade, resumidamente, o motorhome deve ser autossuficiente e dispor de caixas d'água e bateria para "alimentar a casa". Quanto à água, normalmente, existem duas caixas, sendo uma de água limpa e outra de água servida, usadas para abastecerem a pia, o chuveiro e o vaso sanitário, sendo que o sistema de descarga funciona como a dos aviões.
Por fim, mas não menos importante, viajar de motorhome, para nós, será um estilo de vida!
Para quem gosta de aventura, a sensação de liberdade de sair pelo mundo com a "casa nas costas", sem abrir mão de um conforto mínimo e, além disso, com algumas vantagens como, por exemplo, flexibilidade de mudar de rota a qualquer momento, não depender de hospedagens, não se preocurar em arrumar as malas para cada destino, não precisar fazer check-in, etc... parece ser a viagem, se não dos sonhos, muito próxima disso!