Maratona

“Tudo que você precisa para correr é um par de tênis. Não é um esporte que dependa de qualquer outra influência, de instrumentos ou pessoas, o que pareceu perfeito para mim, que tenho uma forte tendência ao comportamento independente, muitas vezes até individualista.”

Haruki Murakami, romancista e maratonista japonês, autor do livro “Do que eu falo quando eu falo de corrida”

A lenda 

Reza a lenda que a maratona surgiu quando Pheidíppides (Fidípedes), soldado e atleta grego, percorreu 40 quilômetros entre as cidades de Maratona e Atenas, ambas na Grécia, para levar a notícia da vitória grega sobre os persas, no ano 490 a.C. Ao concluir o percurso, ele anunciou: “Alegrai-vos, atenienses, nós vencemos!”. E morreu. Apesar de imprecisa, essa é a estória mais romântica que ilustra a origem da maratona.

No entanto, segundo Heródoto, historiador e geógrafo grego, na verdade, Fidípedes, antes de correr os 40 quilômetros entre Maratona e Atenas, já teria percorrido 240 quilômetros, em apenas 2 dias, de Atenas até Esparta. Portanto, sua morte não teria sido por causa de “apenas” 40 quilômetros e, sim, por ter corrido 280 quilômetros em 3 dias.

Independentemente de qual a versão está correta, se a romântica ou se a de Heródoto, a verdade é que o “nosso amigo” Fidípedes, lamentavelmente, não suportou o esforço sobre-humano realizado. No entanto, seu nome ficou marcado para sempre na história das maratonas.

Curiosidade

Somente nos Jogos Olímpicos de 1896, que a modalidade obteve reconhecimento. Um fato curioso é que, na época, o percurso da maratona era exatos 40 km, ou seja, inferior a marca atual, que são 42,195 km. Este acréscimo de 2,195 km, aconteceu somente no ano de 1908, nos Jogos Olímpicos de Londres.

A família real exigiu que a maratona passasse no jardim do Castelo Windsor, pois, assim, eles poderiam assisti-la. A mudança do percurso ganhou esses 2 quilômetros e 195 metros extras e, até hoje, quando disputam uma maratona, os participantes percorrem 42,195 km.

Do km 0 ao km 42

Desde que eu morava no interior do Rio Grande do Sul, já gostava de assistir as maratonas que eram transmitidas pela televisão. Na verdade, não eram bem maratonas. A única corrida transmitida era a famosa corrida de São Silvestre, realizada sempre no dia 31 de dezembro e que tem um percurso de "apenas" 15 km, ou seja, praticamente, um terço da distância de uma maratona.

Meu namoro com as corridas começou tarde. Somente quando completei 40 anos de idade é que comecei a fazer os primeiros treinos. Na época, eu morava em Brasília e comecei a treinar para participar das Corridas dos Carteiros, as quais tinham um percurso de 10 km e eram realizadas, anualmente, pela Empresa na qual eu trabalhava. Mas, lá, não participei de muitas, não.

A paixão aumentou mesmo quando vim morar em Salvador. Foi aqui que intensifiquei os treinamentos, não só no asfalto, mas também na grama e, principalmente, na areia da praia. Participei de várias corridas de 10 km, outras de 15 e, algumas, de 21, que são chamadas de meias-maratonas.

Gradativamente, fui aumentando a quantidade de quilômetros percorridos nos treinos, até atingir o condicionamento físico ideal para correr 42 km. Mas, a primeira maratona, só fui correr em 2015.

Desafio ou loucura?

Considerada A Rainha das Corridas, a maratona é a mais longa, desgastante e difícil prova do atletismo. Por isso, para muitos, correr uma maratona é um desafio, mas, para outros, é uma loucura. Talvez seja um pouco de cada.

No meu caso, quando decidi correr uma maratona, o principal motivo foi superação. Ou será que existe outro que faça alguém treinar horas e horas, antes ou depois do horário de trabalho, durante meses e meses, sob sol e, às vezes, chuva, para correr 42 km, a não ser superação? Creio que não.

Por falar em treinos, se existe algum segredo para correr uma maratona, são eles. Com disciplina, determinação e perseverança nos treinamentos, conclui-la é mera consequência. Além disso, para mim, são momentos especiais. Independente do local, se na areia da praia, na grama ou no asfalto. São uma verdadeira terapia! Uma, duas, às vezes, até três horas de treino, tanto faz! Passam muito rápidas.

Quando estou treinando, normalmente, procuro ocupar minha mente com pensamentos positivos ou orações. Mas, quando isso não acontece, simplesmente a deixo livre e, assim, sem pensar em nada, sigo no ritmo compassado das passadas, metro a metro, quilômetro a quilômetro, até chegar ao final do percurso, quase como se tivesse ligado o "modo automático".    

Quando corri a primeira maratona, minha meta foi apenas completá-la. Não estava preocupado com tempo e, muito menos, em vencê-la – até porque isto seria praticamente impossível para um atleta amador. Aliás, como amador, certamente, jamais correrei uma maratona para vencer. Irei correr para superar meu tempo, isto sim. Reduzir alguns minutos em relação a última maratona é motivo de muita... muita alegria e de comemoração, é claro! E foi isso que comecei a buscar a partir da segunda, da terceira, da quarta e da quinta maratona.