Chile - Deserto de Atacama

Surpreendente! 

Se alguém marcar "deserto" como sinônimo de areia, quando se tratar do Atacama, marcará a alternativa incorreta. Ele é muito mais do que areia!

Para minha surpresa, tive a oportunidade de visitar e, de ver, além de lagoas, vales e montanhas, também, salares - planícies de sal, gêysers - nascentes termais que lançam colunas de águas quentes e vapores de ar, vulcões e... gelo! 

Quando fiz minha inscrição para participar da maratona de Santiago, no Chile, em abril deste ano, reservei uns dias a mais para “dar um pulo” e conhecer o deserto mais árido e mais alto do mundo. Isto mesmo! Além de existirem áreas onde não cai uma gota d’água a centenas de anos, existem regiões com altitudes superiores a 4.000 metros.

Pesquisas recentes indicaram que, de 1 milhão de turistas que visitam, por ano, esse deserto, 40% são brasileiros. Quando li é que fiquei sabendo que “está na moda” visitar o Atacama.

Fui de avião de Santiago até Calama. Uma viagem rápida. Em torno de duas horas. De lá, até São Pedro de Atacama, que é a cidade que serve de base para as saídas dos passeios, são 105 km de asfalto, que podem ser feitos, de ônibus ou de van, em menos de duas horas. Fomos, eu e uma jovem alemã, chamada Sarah, que estava fazendo intercâmbio em Santiago, de van.

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Na rota do deserto, de Calama para São Pedro de Atacama - Foto: Sarah/Alemanha

São Pedro de Atacama

A primeira impressão que tive quando cheguei em São Pedro de Atacama é que estava entrando em uma daquelas cidadezinhas do antigo oeste americano. Uma rua principal, muita poeira, muitos cachorros... muitos mesmo! Enormes... mas mansos e bem cuidados. Se tivesse um xerife e uma meia dúzia de pistoleiros, daria até para gravar um filme de faroeste!

Na verdade, a cidadezinha não é nada disso! Ela é assim, porque ainda preserva as ruas de terra e as casas rústicas, erguidas com adobe, como nos velhos tempos em que os atacamenhos viviam naquele local.

Outro fato que chamou minha atenção foi a Calle Caracoles, a rua principal da cidade. É lá que quase tudo acontece! Inúmeras opções de bares, restaurantes e lojinhas de artesanato local. Além de muitas agências de turismo, sendo grande parte delas de estrangeiros - inclusive de brasileiros. 

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Rua Caracoles - Foto: Flavia/Brasília

Lagoas Antiplânicas

Foi o meu primeiro passeio. A van saiu cedo de São Pedro. Afinal, teríamos que percorrer, aproximadamente, 100 km, até chegarmos às lagoas. Para quem nunca tinha subido acima de 4 mil metros de altitude e, eu era um deles, foi recomendado, na saída, beber muito líquido, inclusive, no pequeno restaurante que paramos para o desayuno - café da manhã, foi oferecido o famoso chá da folha de coca.

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A caminho, paisagens lindíssimas - Foto: Paula/Chile

Seguimos viagem até chegarmos ao topo. Lá, na Reserva Nacional de los Flamencos, numa altitude de 4.200 metros, é que estão as Lagunas Antiplânicas, entre elas as Lagoas MiscantiMiñiques e Aguas Calientes.

A primeira delas é a Miscanti. Muito bonita, com suas águas serenas, cercada de montanhas, com cumes brancos de gelos e uma vegetação amarelada que faz um contraste muito interessante com o azul das águas.

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Lagoa Miscanti - Foto: Batista

Fomos caminhando até a segunda lagoa, que é chamada de Miñiques. O visual é espetacular e ficou ainda mais lindo com a presença de algumas vicuñas - vicunhas são mamíferos semelhantes à lhama. E o que é lhama? Ah! É uma parente da alpaca, do guanaco... e da vicunha, é claro! São todos ruminantes da família dos camelídeos que vivem na América do Sul!

As paisagens são lindas! Não é à toa que as Lagoas do Antiplano Sul estão entre os principais cartões postais do Atacama.

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Lagoa Miñiques - Vicunhas "pensando" se desfilam ou não na passarela - Foto: Henrique/RJ

Piedras Rojas 

O passeio continuou até chegarmos nas Piedras Rojas. Aqui, como o próprio nome diz, é uma área com formações rochosas avermelhadas, que ficam localizadas ao lado da lagoa Aguas Calientes. Só que a cor desta é quase um verde claro, criando um colorido todo especial, principalmente, com o reflexo das montanhas.

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Lagoa Aguas Calientes ao lado da Pedra Roja - Foto: Batista

 

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Na Pedra Roja, descansando - Foto: Paula/Chile

Salar de Atacama e Lagoa de Chaxa

Encerramos o passeio no Salar de Atacama e na Lagoa de Chaxa. Embora eu já tivesse escutado algumas vezes a palavra salar, não tinha uma ideia concreta de como era a sua composição física. Na verdade é um deserto composto de cristais de sal, provenientes da evaporação da água salgada do subsolo, sendo possível caminhar tranquilamente sobre ele.

Ao lado do Salar de Atacama está situada a Lagoa de Chaxa, que é um verdadeiro oásis em meio a um deserto de sal. Além disso, ela também é o lar de inúmeros flamingos selvagens.

Fomos caminhando e admirando esses elegantes animais. Uma curiosidade é a cor avermelhada dessas aves. Ela reflete muito bem aquele ditado: somos aquilo que comemos! A cor é derivada da alimentação deles, ou seja, das algas, que são carregadas de betacaroteno, uma substância química que possui um pigmento laranja-avermelhado.

Mais uma vez, o cenário é surpreendente, por que a lagoa também é cercada de montanhas e vulcões, criando um visual sensacional!

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Lagoa de Chaxa e seus elegantes flamingos - Foto: Henrique/RJ

Geysers del Tatio

Saímos muito cedo, às 4 horas da manhã, de São Pedro, que está a 2.400 metros acima do nível do mar, para subir, de van, até, incríveis, 4.300 metros de altitude, local onde está situado o campo geotérmico de Tatio.

Para mim, uma das melhores atrações e, porque não, surpresas, do Deserto de Atacama!

É lá que estão os famosos geysers del Tatio, os quais poderiam ser chamados de “filhotes de vulcões”, pois, se não são, estão muito próximos disso!

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Na chegada, os gêysers do Tatio dando "sinal de vida" - Foto: Paula/Chile

Porque sair e chegar tão cedo? Eu também fiz essa pergunta. Mas depois entendi o porquê. É preciso chegar lá antes do sol amanhecer. É nesse horário que os vapores e os jatos d’água são cinematográficos!

O contraste é marcante entre a temperatura da água, que, nessa altitude, entra em ebulição a 80º C e a temperatura ambiente, que estava -2º C!

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Erupções de um gêyser de Tatio - Foto: Batista

São inúmeras erupções: pequenas, médias, grandes... enfim, para todos os gostos!

Assim que o sol aparece e a temperatura ambiente começa a subir, as erupções vai diminuindo.

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Sol nascendo em Tatio - Foto: Batista

Nessa hora a “brincadeira” começa a ficar mais interessante. É hora de tomar uma decisão: entrar ou não, na piscina natural, aquecida por um geyser a 80º C. Alguns decidiram pelo não e, outros, entre eles eu, pelo sim. 

Entrar, na verdade, nem é tão difícil. Difícil, mesmo, é sair. Pense... sair da piscina superquente para uma temperatura externa de, aproximadamente, 4º C!

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Piscina natural com aquecimento a gêyser - Foto: Paula/Chile

No retorno, na estrada, tive a oportunidade de ver, pela primeira vez, um rebanho de lhamas. Como se tivessem combinado, todas pararam, ao mesmo tempo, para posar para a foto.

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Lhamas, "posando" para as fotos - Foto: Batista

Próximo ao povoado de Machuca, como se ainda fosse na Idade da Pedra, um casebre, praticamente, encravado na montanha. 

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Casebre de pedras, quase camuflado, ao pé da montanha - Foto: Batista

Vales da Lua e da Morte

 

Reservei o último dia para conhecer os Valle de la Luna de la Muerte, para nós, Vale da Lua e da Morte, os quais ficam distantes, aproximadamente, 13 km de São Pedro

Partimos às 16h para fazermos este, que é considerado um dos passeios mais famosos do Atacama. As agências justificam a saída nesse horário, primeiro, porque a temperatura já não está tão escaldante e, segundo, porque é a oportunidade dos turistas apreciarem um dos espetáculos mais lindos, no Valle de la Muerte, que é o pôr do sol.

O Vale da Lua leva esse nome em referência ao relevo acidentado da lua. Embora eu nunca tenha visitado a lua, o local realmente tem certa semelhança, pelo menos, com as fotos que vi do relevo lunar.

Logo no início, entramos para conhecer o Cânion de las Cuervas de Sal. Perguntaram se alguém tinha problema de claustrofobia, pois, se tivesse não poderia fazer a passagem. Realmente, após a entrada, conforme íamos caminhando, o cânion ia ficando cada vez mais estreito e mais baixo, até chegarmos ao ponto de quase nos arrastamos para seguir em frente. 

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Saindo do Cânion das Curva de Sal - Foto: André/RJ

Continuamos caminhando pelo vale. As formações rochosas, desenhadas pelo vento e pelas erosões, formam esculturas e paredões espetaculares.

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Vista parcial do Vale da Lua - Foto: Batista

Agora, por outro ângulo, imagem do vale com alguns vulcões ao fundo. O mais alto deles é o Licancabur. A Bolívia fica situada atrás dele.

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Vista parcial do Vale da Lua com o vulcão Licancabur, como pano de fundo - Foto: Batista

O vale também tem seu lado místico, que é o monumento às Três Marias. Talvez seja necessário um pouquinho de imaginação para enxergá-las. Conseguiram? Então vamos decifrá-las.

Elas representam imagens de Maria, mãe de Jesus, em três momentos distintos: a da direita, de joelhos, orando; a do meio, erguendo o menino Jesus para o céu e, a da esquerda, representava... isto mesmo, representava ela prostrada, pois a parte da pedra da cabeça, não aparece mais. Um turista teve a “feliz” ideia de subir nela para tirar uma foto e a quebrou. Lamentável, não é?

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As Três Marias no Vale da Lua - Foto: André/RJ

A seguir, um dos poucos momentos da viagem que realmente tive a sensação que estava em um deserto. Chamada de A Grande Duna, essa gigantesca montanha de areia, com quase 600 metros de extensão, precisa ser “escalada” por aqueles que querem chegar até o mirante panorâmico.

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A Grande Duna - Foto: Batista

Sem subir pela duna, existe outro caminho, não tão "penoso" que leva até o cume, onde está a Pedra do Coiote. Lá, no topo, além de termos uma visão privilegiada, nossos olhos se perdem da imensidão do Valle de la Muerte.

O Vale da Morte, na verdade, deveria se chamar Vale de Marte, devido a sua possível semelhança com o planeta vermelho. No entanto, o padre belga Gustavo Le Paige, um estudioso da cultura atacamenha, acabou sendo mal interpretado e, por isso, o vale acabou ficando conhecido como Valle de la Muerte

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Pedra do Coiote e, lá embaixo, a estrada que atravessa o Vale da Morte - Foto: Batista

Foi aqui, na Pedra do Coiote, que tive a minha última visão do Valle de la Muerte: o espetacular pôr-do-sol! No final da tarde, centenas de turistas se reúnem, para assisti-lo. Realmente é um espetáculo que vale a pena, inclusive, ver de novo.

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Pôr-do-sol no Vale da Morte - Foto: Batista