Maratona de Salvador - 20/12/2015
A primeira maratona ninguém esquece...
O mês era outubro e o ano 2015. Já havia feito minha inscrição. Era só esperar o dia da maratona. Mas, por motivos os quais não fiquei sabendo, a corrida foi transferida para dezembro. Se, por um lado, ganharia mais tempo para treinar, por outro, viriam, de brinde, alguns graus a mais de temperatura, pois a nova data praticamente coincidiria com o início do verão.
Em Salvador, as altas temperaturas, com certeza, não são as melhores companhias para se ter em uma corrida de longa distância. Mas como não podia fazer nada em relação à alteração, no dia 20/12/2015, às 6h, em ponto, eu estava no Jardim de Alah, na Largada, pronto para encarar meus primeiros 42 km.
Em relação aos treinamentos, alguns treinadores dizem que, se tu fizeres dois ou três longões de 30 a 36 km, na teoria, já estarás apto a correr uma maratona. É claro, se conseguires terminá-los confortavelmente. Lembro-me que fiz apenas dois treinos de 30 km. Um deles, eu saí do bairro Pituba e fui até a Praia do Flamengo, distante, aproximadamente, 17,5 km. Chegando lá, retornei, completando os 30 km, próximo ao Parque Pituaçú.
Apoio moral
A largada foi alguns minutos depois das 6h. Com pouco mais de meia hora de prova, recordo-me que, no km 7, recebi o “apoio moral” de um casal de amigos, Olívio e Rosa, que levantaram cedo para assistir a corrida e, com os quais, na passagem, comentei: “Já corri 7... só faltam 35 km”. Mentalmente, queria “suavizar” o fato de que, na prática, ainda teria pela frente mais 5 percursos iguais àquele que já havia percorrido.
Completei os primeiros 21 km pouco abaixo de 2 horas, após o retorno no bairro Ondina, conforme previsto no percurso. Se fosse uma meia maratona, o tempo estaria alto, pois já tinha atingido tempos bem melhores para 21 km, no entanto, por se tratar de minha primeira maratona, considerei um bom tempo.
Por um momento, cheguei até pensar que, se mantivesse o ritmo, acabaria a corrida em sub 4, ou seja, tempo inferior a 4 horas, o qual é considerado ótimo para atletas amadores. Mas, na segunda metade de prova, constatei que a lógica de uma corrida não é tão exata quanto à da matemática.
Surpresa
No km 27, tive uma surpresa: encontrei um amigo, experiente em maratonas, “quebrado”, ou seja, literalmente caminhando na pista. Tentei incentivá-lo para seguir, mesmo que em um ritmo mais lento, no entanto, ele disse-me que não tinha mais condições e que iria desistir. Fiquei triste por ele. Nesse momento, lembrei-me de uma reportagem que havia lido, na qual, um corredor de elite, havia declarado: “O desempenho de um atleta em uma maratona depende de como ele está se sentindo no dia da corrida”.
Para quem, como eu, que ainda não tinha corrido nenhuma maratona, parecia um pouco sem sentido aquela declaração. Ora, se um atleta de elite seguiu, à risca, todos os treinos e se, além disso, já concluiu várias, na teoria, ele estaria apto a completar mais uma maratona, sem problemas, não é? Não, não é. Na prática, as coisas não são tão simples assim! Afinal, somos humanos, não somos máquinas, as quais programamos, apertamos um botão e elas executam as tarefas, no mesmo ritmo, sem parar, até a conclusão.
Assim, acabei percebendo que o fato do meu amigo, mesmo sendo experiente ter “quebrado” no km 27, de alguma forma tinha a ver com a reportagem, ou seja, provavelmente ele não estava em um dos seus melhores dias. Quando acabei essa reflexão, já estava passando, novamente, em frente à largada, indo agora em direção ao bairro Itapuã e ao km 32, o qual estava localizado próximo ao Sesc.
Muro invisível
Alguns especialistas dizem que existe um “muro invisível” no km 30 e, para superá-lo, além de preparo físico, o atleta precisa, também, estar mentalmente preparado para chegar até o final da corrida. Se esta teoria tem ou não algum fundamento, eu não sei. O que sei é que, ao chegar ao km 32 já estava sentindo minhas pernas “com alguns quilos a mais”. Por um momento, cheguei a pensar em caminhar. No entanto, imaginei a cena e quanto eu seria ridículo. Afinal, estava em uma maratona e não em uma caminhada!
Passados esses pensamentos, a alternativa encontrada foi uma solução intermediária, ou seja, trotear. Acabei troteando algumas dezenas de metros até recuperar o ritmo, o qual, naquela altura da corrida, já estava acima de 6 min por km.
Recuperado o ritmo, voltei a correr normalmente. Fiquei contente quando, pela terceira vez visualizei os coqueiros do Jardim de Alah. Sim, terceira vez, pois o percurso era cheio de idas e voltas! Só que desta vez eu sabia que, chegando lá, finalmente, concluiria a maratona.
Normalmente, no final da corrida, “quando ainda se tem pernas”, aproveita-se para dar um sprinter, ou seja, acelerar o ritmo até ultrapassar o tapete da Chegada. Foi o que eu fiz! Este sprinter tem um efeito psicológico interessante para o atleta: funciona como uma espécie de autoafirmação, ou seja, é a forma dele tentar demonstrar que está em plenas condições e que está chegando “inteiro” no final da corrida... o que nem sempre reflete a realidade.
E o tempo? Talvez alguém pergunte. Sinceramente, nessa altura do campeonato, não estava muito preocupado com o tempo. Meu principal objetivo era concluir os 42 km!
Mas respondendo, ele ficou além do esperado, ou seja, acima de 4 horas.
Mas eu estava feliz!
Aos 55 anos, acabava de correr minha primeira maratona!
Agora era só colocar a medalha no peito e… comemorar!