Midnight Sun Marathon - Noruega - 16/6/2018

Correndo com sol à meia-noite!

 

Mudamos um pouco a nossa forma de viajar para chegarmos até Tromso. Como de Oslo, a capital da Noruega, até aqui, são aproximadamente 1.750 km, optamos por deixar o motorhome estacionado na capital e pegamos um avião. Assim, em pouco menos de duas horas de voo estávamos aterrisando nesta charmosa cidadezinha.

Realizada sempre no mês de junho, no final de semana anterior ao início do verão, a Midnight Sun Marathon (Maratona do Sol da Meia-Noite), além de ser considerada a maratona mais ao norte do planeta, proporciona aos atletas a experiência de correr, à noite, enquanto ainda há luz do dia.

Como pretendíamos passar o final de semana na cidade, fizemos uma reserva através do Airbnb. Em relação à reserva, inicialmente, quando chegamos no aeroporto ficamos um pouco apreensivos, pois constatamos que o apartamento ficava na ilha de Kvaløya, distante 25 km, pois quando reservamos não sabíamos que Tromso era composta de três ilhas.

No entanto, para nossa surpresa, ao contatarmos com o proprietário, imediatamente ele se prontificou a buscar-nos.

A surpresa inicial se estenteu até o nosso retorno. De coração, gostaríamos de agradecer o Sten, o proprietário, pelo excelente atendimento durante nossa permanência em Tromso. Certamente daremos boas referências para aqueles que tiverem interesse em se hospedar nesta cidade.

noruega-tromso-sten-logo.jpgÀ meia-noite, com sol, em "nossa casa" em Tromso, na Noruega

Como o horário da maratona estava marcado para às 20h30min - justamente para a maioria dos atletas cruzarem a linha de chegada com o sol da meia-noite, de manhã fomos retirar o kit e, após, aproveitamos para caminhar pelo centro da cidade e visitar alguns pontos turísticos. 

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Na chegada... antes de retirar o kit para a maratona

A cidade simplesmente pára e "respira" maratona no final de semana do evento! Depois que conversamos com alguns nativos, descobrimos que existem até estátuas para incentivar à "cultura" às corridas nesta cidade.

Os nomes das estátua são "As Corredoras" e elas estão expostas na praça Jaklins. Nelas estão uma mulher e uma menina correndo juntas. Simbolizam a integração que o evento representa para a cidade, com a participação de pessoas de todas as idades e de várias partes do mundo!

noruega-tromso-as-corredoras-logo.jpgAs Corredoras, na praça Jaklins, em Tromso

No início da tarde, assistimos a corrida das crianças e, por que não dizer, criancinhas, pois muitas delas corrreram com o apoio dos pais.

Este evento, muito interessante, chamou nossa atenção, primeiro, por demonstrar o incentivo às crianças a praticar esportes desde pequenas e, segundo, pela beleza do evento, pois assistir crianças pequenininhas correndo com númeração no peito, como se fossem adultos, realmente é algum muito lindo e que, certamente, não acontece todos os dias.

Largada

Bem antes da largada, quando a pista estava totalmente vazia, sobrou tempo para registrarmos nossa presença no evento, antes acompanhado e, depois, sozinho.

noruega-tromso-largada-nos-logo.jpgNay e eu, antes da largada da maratona

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Britanicamente, às 20h30min, com um vento fortíssimo e muito frio, pois a temperatura estava abaixo de 8 graus, foi dada a largada para a maratona mais setentrional do planeta, ou seja, mais ao norte.

Após a saída, cruzamos algumas ruas no centro e fomos em direção a ponte que liga a parte insular ao continente. Com mais de 1 km de extensão, ela foi o meu primeiro teste de esforço, pois, com quase 50 metros de altura sobre o nível do mar, mesmo no início, ela se torna um dos pontos mais difíceis da prova.

Um fato curioso é a marcação decrescente dos quilômetros! Isto mesmo! Para quem, como eu, que sempre corri com a numeração crescente, no início, é um pouco estranho. No entanto, analisando com mais calma, este tipo de marcação tem um fator psicológico positivo, pois, na prática, é mais importante "controlarmos" a distância que falta do que aquela que já corremos, concordam?

Após atravessarmos a ponte, chegamos ao continente e cruzamos pela bela Catedral do Ártico, principal igreja de Tromso. Continuamos o percurso, aproximadamente, uns 11 km, quando fizemos o retorno em direção à ponte e, consequentemente, à península. 

Neste tipo de percurso bate-e-volta, existe um aspecto psicológico interessante. Primeiro, eu diria que positivo, pois temos a oportunidade de visualizar os corredores que estão com um tempo maior que o nosso, no entanto, o segundo já seria negativo, pois visualizamos os corredores que estão a nossa frente, ou seja, com um tempo menor.

Mas este é um fato normal para os amadores, como eu, que participam de maratonas... sempre haverá alguns mais rápidos e outros mais lentos.

Por falar em pace, ou seja, o ritmo médio de corrida calculado em minutos por km, como pouquíssimas vezes eu treinei para esta maratona e, quando treinei, foram treinos curtíssimos, a minha intenção foi manter um ritmo bem confortável... um pace pouco abaixo de 6 min por km, principalmente nos primeiros 21 km. E consegui! 

Quando retornamos ao centro da cidade, completei o km 21 com o tempo de 2h e 07min. Embora já tenha feito tempos bem melhores em outras primeiras metades de maratonas, considerando todo o contexto da viagem, fiquei feliz em conseguir realizar a metade da prova neste tempo.

Nesse momento, cheguei até pensar... se mantiver esse ritmo eu acabarei a maratona por volta de 4h e 14min... o que, para mim, seria um bom tempo!

Fatores

Mas, a partir do km 21, ou seja, da metade da prova, três fatores começaram a influenciar, negativamente, no meu ritmo:

- o primeiro foi o "reflexo" de alguns quilos a mais - uma meia dúzia, eu diria, os quais foram adquiridos durante estes quatro meses de viagem, principalmente por uma alimentação inadequada;

- o segundo, a falta de treinos, em especial, dos longões - aqueles superiores a 25 km, que são a base para corrermos confortavelmente uma maratona e,

- o terceiro, talvez, o mais impactante... meu ombro direito - operado em novembro, começou a dar sinais de vida, ou melhor, de dor... e não foram poucos!

Aliado a estes três fatores, além da baixa temperatura e do vento já citados anteriormente, para completar uma forte chuva também entrou nessa "receita do bolo".

Abandonar ou não?

Talvez para alguns, nesse momento, o primeiro pensamento seja abandonar a corrida. Afinal, somos amadores e, se desistirmos, não iremos perder praticamente nada.

No meu caso, eu penso um pouco diferente. Mesmo com todos esses fatores adversos, minha intenção foi continuar, pois pensei: já corri 21, ou seja, a metade da prova, agora "só" faltam mais 21 km!

Assim, continuei, mas agora em ritmo mais lento. Nessa altura já não estava mais preocupado com o tempo e, sim, em terminar a corrida. Haviam fiscais de provas em todas as esquinas e eles, juntamente, com uns poucos expectadores nos bares ou nas janelas das casas, por causa do horário e do mau tempo, tentavam nos incentivar a completar a prova.

Quando cheguei no km 22, pela primeira vez, minha mente "insinuou" a possibilidade de  abandonar a prova, pensamento este que, imediatamente, fiz questão de abortar.

Afinal, tenho um sonho de realizar algumas maratonas "exóticas" e esta foi uma delas, por isso ela estava no meu cronograma e, para chegar aqui, tinha viajado muitos, mas muitos quilometros. Abandonar, para mim, não teria muita lógica e, para ser sincero, nenhum sentido!

Embora a dor estivesse aumentando gradativamente, persisti e corri mais 1,5 km. Nessa altura do campeonato a minha esperança era que a dor passasse e eu pudesse continuar a corrida até o fim.

No entanto, quando ultrapassei, em ritmo muito lento, a placa do km 17 - lembram que a numeração é decrescente? - a dor já era insuportável. Após completar 25 km, caminhei alguns metros e comecei a refletir sobre a possibilidade de abandonar ou não.

Confesso que para quem gosta de correr, como eu, a possibilidade de abandonar uma maratona, mesmo acontecendo pela primeira vez, é uma decisão muito difícil e, com certeza, não muito agradável.

Se por um lado, nossa mente tenta “justificar” o abandono com pensamentos de incentivo, como por exemplo: você foi até o seu limite... fez o máximo que poderia ter feito... sempre terá uma primeira vez... esta é apenas mais uma maratona...  afinal, você participou de cinco e completou todas!

Por outro, fica aquela sensação de mistura de indignação com fracasso, por não ter concluído a prova.

Somente quando refleti sobre as consequências negativas que poderiam ser causadas, caso em continuasse correndo é que, realmente, decidi não continuar mais.

Assim, no km 25, abandonei a maratona...

No retorno para o apartamento e na continuação da viagem, eu teria muito tempo para reavaliar os motivos pelos quais não completei esta prova e, se possível, tentar não repeti-los para que, na próxima maratona, prevista para novembro, em Atenas, na Grécia, eu consiga completá-la confortavelmente.