Polônia - Auschwitz

Um capítulo triste da história!

 Auschwitz I

Após visitar Cracóvia, segui em direção a cidade de Oswiecim, distante 68 km. Provavelmente, muitas pessoas nunca ouviram este nome. No entanto, o nome Auschwitz, creio que todos nós já ouvimos, pelo menos, uma vez na vida.... aquele famoso complexo de campos de concentração e extermínio! 

Cheguei aqui um pouco antes das 16h. O parque de estacionamento estava lotado de ônibus, vans e carros particulares. Após estacionar o motorhome, fui obter informações sobre o acesso. Como era livre a partir das 16h, fiquei esperando horário para ingressar.

Enquanto eu "espero", vamos relembrar o porquê da origem desses centros de concentração e extermínio, certo? Durante a Segunda Guerra Mundial, conforme as tropas nazistas iam realizando conquistas de novos territórios e aprisionando judeus "em massa", principalmente, poloneses, "estourou" a capacidade das prisões convencionais de receber novos presos.

Então... por este motivo e, por questão de logística, ou seja, devido a posição estratégica da cidade de Auschwitz e da Polônia, em relação aos demais países da Europa, foi que surgiu Auschwitz. Na verdade, este foi o nome dado pelos alemães para a cidade de Oswiecim.

Esta rede de campos de concentração operada pelos alemães nas áreas polonesas anexadas pela Alemanha, foi o maior símbolo do Holocauto, perpetrado pelo nazismo.

Ou seja, desde o momento em que Adolf Hitller assumiu à Alemanha, começou a proclamar a necessidade de se exterminar alguns grupos indesejáveis da sociedade alemã para que o país pudesse se recuperar das humilhações sofridas após a Primeira Guerra Mundial e das consequências da crise econômica de 1929.

No total, a rede era composta por 48 unidades, ou seja, Auschwitz I (Stammlager, o campo principal e centro administrativo do complexo), Auschwitz II–Birkenau (o campo de extermínio), Auschwitz III–Monowitz e mais 45 campos satélites, 

polonia-oswiecim-mapa-site.jpgLocalização estratégica de Auschwitz e da Polônia

Após uma vistoria rigorosa na entrada, semelhante àquelas nos aeroportos, onde é necessário tirar até o cinto por causa da fivela, lá fui eu, em direção ao portão de entrada do ex-campo de concentração de Auschwitz I, hoje transformado em museu.

O portão com os dizeres infames de Arbeit Macht Frei (O Trabalho Liberta), em letras de ferro fundido, é, no mínimo, irônico, pois, praticamente 99,9% das pessoas que cruzavam por ele nunca mais teriam oportunidade de retornar.

polonia-oswiecim-entrada-frase-site.jpgFrase infame no entrada de Auschwitz I, na Polônia

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Entrada do ex-campo de concentração Auschwitz I

Após cruzar o portão, na primeira placa que eu li, estava escrito, em três idiomas: "Você está no prédio onde a SS assassinou milhares de pessoas. Por favor, mantenha o silêncio aqui: lembre-se do sofrimento deles e mostre respeito em memória a eles".

Lembrando que SS é a sigla nazista da palavra Schutzstaffel, um termo alemão que significa “esquadrilha de proteção”, em português.

Nesse momento, é impossível não parar para refletir. Só nesses dois campos, Auschwitz I e II, foram assassinados, aproximadamente, 1,3 milhão de pessoas! É isto mesmo! Se considerarmos os dados do IBGE, de 2017, este número é equivalente a quase metade da população de Salvador, na Bahia!

Desses 1,3 milhão de executados, 90% eram judeus. Entre os 10% restantes, estavam 150 mil poloneses, 23 mil ciganos romenos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos, cerca de 400 testemunhas de Jeová e dezenas de milhares de pessoas de diversas nacionalidades! 

polonia-oswiecim-placa-de-silencio-site.jpgPlaca solicitando silêncio e respeito

Os primeiros a chegarem a este campo, foram os prisioneiros políticos do exército polaco, mas não demoraram a chegar os membros da resistência, intelectuais, homossexuais, ciganos e, é claro, judeus.

A maioria dos judeus era enganada pelos nazistas, que vendiam casas e terrenos para eles e ofereciam atrativas vagas de trabalho para que os judeus aceitassem e trouxessem com eles seus bens mais valiosos.

Iniciei meu passeio fazendo um "reconhecimento" visual do campo. Ele é imenso! Com inúmeros blocos, todos numerados e, pouquíssimos, contendo placas indicativas das "atividades" realizadas no local.

Enquanto caminhava lentamente, fiquei imaginando como seria difícil uma fuga deste local! Além das cercas eletrificadas, os muros eram muito altos... ou seja, praticamente impossível! Mas, por incrível que pareça, muitos prisioneiros para fugirem das atrocidades praticadas neste campo, jogavam-se nas cercas, suicidando-se!

polonia-oswiecim-muros-e-telas.jpgCercas eletrificadas e muros cercando Auschwitz I 

polonia-oswiecim-muros-site.jpgCercas eletrificadas separando os blocos

Por falar em fuga, ou em tentativa, existia uma placa informando o que aconteceria nessas hipóteses: "Os cadáveres de prisioneiros baleados enquanto tentavam escapar eram muitas vezes exibidos aqui como um aviso para os outros"!

polonia-oswiecim-placa-de-fugitivos-site.jpgPlaca de alerta, em casos de tentativa de fuga

Depois dessa caminhada inicial, fui em direção ao local onde funcionavam as salas das câmaras de gás e dos fornos crematórios. Nas primeiras execuções por gás que aconteceram aqui, foi utilizado Zyklon-B (um pesticida altamente letal à base de cianureto). Os prisioneiros considerados pouco aptos para trabalhar eram transferidos para as câmaras de gás, onde eram informados de que receberiam uma ducha.

Depois de deixarem seus objetos em uma sala, eles eram encerrados e assassinados com Zyklon-B. Quando todos estavam mortos, eram revisados para ver se possuíam objetos de valor. Caso tivessem, eram recolhidos ou retirados, inclusive ouro das obturações dentárias (neste caso, com alicate). Após, eram levados para os fornos crematórios. 

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Local onde funcionava as câmaras de gás e os fornos crematórios

polonia-oswiecim-sala-de-gas-site-1.jpgSala das câmaras de gás

polonia-oswiecim-crematorios-site-2.jpgSala dos fornos crematórios

polonia-oswiecim-portas-site-1.jpgPortas dos fornos crematórios

Neste complexo, existem vários blocos. O Bloco 11, por exemplo, era considerado "a prisão dentro da prisão", ou seja, aqui era o local onde eram punidos os presos que quebravam as regras, tentavam escapar ou eram suspeitos de sabotagem.

polonia-oswiecim-grades-site-2.jpgSubsolo... prisão dentro da prisão

Alguns prisioneiros eram obrigados a passar noites seguidas nas "celas verticais". Nestas minúsculas celas, com apenas 1,5 m², eram colocados até quatro prisioneiros ao mesmo tempo. Não restava outra alternativa a não ser passarem a noite, em pé. Para piorar, no dia seguinte, tinham que realizar trabalhos forçados.  

polonia-oswiecim-celas-site.jpgCelas mínusculas para 4 prisioneiros

Na verdade, existiam vários tipos de celas, uma pior do que a outra. As "celas escuras" tinham apenas um pequeno espaço na parede para os presos respirarem. Já nas "celas da fome", os aprisionados ficavam sem receber comida ou água até morrerem.

polonia-oswiecim-portas-celas-site.jpgPequeno olho mágico... único espaço visível

polonia-oswiecim-grades-subterraneas-site.jpgPrisões no subsolo

Em cada um dos blocos existentes no complexo, estão expostos nas salas, algum tipo de prova dos crimes ocorridos neste local ou objetos pertencentes aos prisioneiros.

polonia-oswiecim-galeria-de-fotos-site.jpgNeste bloco, fotos dos prisioneiros executados

polonia-oswiecim-foto-criancas-site.jpgNeste outro, fotos de crianças usadas em experiências do Dr. Joseh Mengele

polonia-oswiecim-colchonetes-site.jpgJá neste, colchonetes feitos com cabelos de prisioneiras

polonia-oswiecim-camas-ii-site.jpgE neste, camas onde dormiam até 4 prisioneiros juntos

Quando os russos tomaram a posse deste campo, foram encontrados dezenas de milhares de… tudo! Malas, sapatos, escovas de sapatos, próteses, óculos, pentes, escovas de dentes, casacos, chaves, etc, etc, etc. Esses objetos são expostos em diversas salas, nos diversos blocos. 

polonia-oswiecim-escovas-site-2.jpgSala com milhares de escovas de sapatos

Ah! Em uma das salas existe quase duas toneladas de cabelos! Exatamente! No entanto, não foi possível fotografá-la. Na verdade, não podemos esquecer que os presos ao chegarem aqui, independentemente de sexo, tinham seus cabelos raspados e eram obrigados a vestirem os típicos uniformes listrados, lembram?

polonia-oswiecim-roupas-site-1.jpgUniformes listrados, típicos dos prisioneiros

Um detalhe cínico, é que existia uma orquestra de prisioneiras, a Orquestra Feminina de Auschwitz, que era forçada a tocar, grotescamente, uma música alegre, à medida que os prisioneiros passavam pelos portões a caminho do trabalho.

Esta orquestra foi criada pela supervisora nazista do campo feminino Maria Mandel, a qual, por suas atrocidades, ficou conhecida como "A Besta".

polonia-oswiecim-coreto-site.jpgLocal onde a orquestra tocava para os presos 

Auschwitz II - Birkenau

Se a visita Auschwitz I foi desconfortável, pois, lá, mesmo sendo chamado de campo de concentração, mataram aproximadamente 70 mil pessoas, imaginem visitar Auschwitz II - Birkenau! Horripilante! 

Este segundo campo, conhecido mundialmente apenas por Auschwitz, foi um campo exclusivamente de extermínio. Aqui foram aprisionados milhões de judeus e, pior, mais de um milhão deles foram executados.

Sua construção teve dois objetivos. O primeiro, foi descongestionar Auschwitz I, que já não suportava mais o volume de presos encaminhados para lá e, o segundo, para colocar em prática o "sinistro" plano da Alemanha nazista, denominado Solução final para o problema judeu, ou seja, exterminar todos os judeus da face da Terra

polonia-oswiecim-ii-trilhos-site.jpgO famoso portão de entrada de Auschwitz II

A primeira câmara de gás, conhecida como "A Pequena Casa Vermelha", começou a funcionar em 1942. Após ela, foi construída a segunda, denominada de "A Pequena Casa Branca".

Mas foi a partir de 1943, que os nazistas resolveram ampliar a capacidade de gaseificação em Birkenau. Os crematórios foram convertidos numa verdadeira "fábrica de assassinatos", pois eles colocaram portas à prova de gás e adicionaram entradas para o Zyklon-B.

Existia um grupo de empregados denominado sonderkommando, composto por judeus os quais, em troca de suas próprias vidas, executavam o "trabalho sujo", ou seja, os serviços que os alemães não queriam executar.

Entre estas atividades estavam a preparação dos recém-chegados selecionados para morrer - geralmente as crianças, os anciões e os doentes, para as câmaras de gás, o transporte dos corpos para os fornos e, por fim, a limpeza das câmaras.

Além deste grupo, também existiam os kapos, os quais tinham a obrigação de manter a ordem nos alojamentos. É claro que alguns "empregados" destes grupos citados eram mortos periodicamente.

Como este campo, no auge das prisões, chegou a ter 100 mil prisioneiros, para se ter uma ideia da estrutura montada pelos nazistas, existiam cerca de 6.000 guardas da SS trabalhando em Auschwitz!

As mortes nas câmaras eram sofridas. Após as portas serem trancadas, os SS despejavam as pastilhas de cianeto através de aberturas no teto ou nas paredes. Apesar das grossas paredes de tijolos e concreto das câmaras, os gritos e os lamentos que vinham de dentro podiam ser escutados do lado de fora por cerca de 15 a 20 minutos.

Numa tentativa mal sucedida de abafar os gritos, dois motores de motocicletas eram acelerados ao máximo, mas, mesmo assim, ainda era possível ouvir os gritos dos prisioneiros. Aqui neste campo, a estrutura para realizar maldade era gigantesca, pois, no mesmo dia, poderiam ser gaseificadas e cremadas mais de 20 mil pessoas!

polonia-oswiecim-ii-trilhos-eu-site.jpgEntrada de Auschwitz II

polonia-oswiecim-ii-placa-site-1.jpgPlaca na entrada do Museu Auschwitz - Birkenau

Neste campo de extermínio, foram montadas dezenas de galpões de madeira, onde judeus, ciganos, homossexuais e todos os inimigos do regime eram amontoados em condições precárias.

Aqui, as expectativas eram as piores possíveis. Aguardariam seu fim em câmaras de gás, definhariam de fome e exaustão ou milagrosamente sobreviveriam para contar suas terríveis memórias. Eles vinham de toda a Europa, em trens que aqui descarregavam sua "carga".

polonia-oswiecim-ii-galpoes-site.jpgGalpões de madeira em Auschwitz II

Os galpões-dormitórios, originalmente, eram estábulos para acomodar 52 cavalos. Com o "inchaço" dos campos, tais galpões passaram a ser utilizados como dormitórios. Chegaram a colocar até 600 prisioneiros em cada galpão destes! 

polonia-oswiecim-camas-site-1.jpgGalpão-dormitório

No galpão-banheiro, existia uma área demarcada no chão onde era dado o banho nos prisioneiros. Eles ficavam todos em pé e era jogada água fria, independemente, da época do ano. No meio, ficavam as latrinas.

polonia-oswiecim-sanitarios-site.jpgVasos coletivos, nos galpões-banheiros, em Auschwitz II

Quando os soviéticos chegaram a este campo, para libertar cerca de 7 ou 8 mil pessoas prisioneiras, encontraram muita resistência do exército nazista e, inclusive, neste combates, vários soviéticos morreram.

No entanto, ciente da aproximação dos russos, o exército nazista começou a destruir as câmaras de gás a fim de eliminar os vestígios de terror praticado neste local e a evacuar cerca de 60 mil prisioneiros.

Obrigados a caminhar durante quilômetros, na conhecida Marcha da Morte, cerca de 15 mil prisioneiros acabaram morrendo durante o percurso.

Entre os prisioneiros notáveis que passaram por este campo, estão entre outros, Anne Frank, autora do Diário de Anne Frank, Edith Stein, católica de origem judia, canonizada como Santa Teresa Benedita da Cruz e Maximillian Kolbe, um padre católico e franciscano, que morreu como voluntário em lugar de outro prisioneiro que tinha mulher e filhos no campo. Ele também foi canonizado pelo Papa João Paulo II, na presença de Franciszek Gajowniczek, o homem cujo lugar tomou e que sobreviveu à Auschwitz.

Embora não se trate de um lugar divertido, eu creio que visitar os campos de concentração e de extermínio de Auschwitz I e II – Birkenau é uma experiência única de se conhecer um dos momentos mais trágicos da história do século XX.

Além disso, possibilita-nos termos uma idéia de até aonde pode ir a crueldade dos seres humanos.

É claro que, após a visita, a sensação de desconforto é muito grande! Para aqueles que acreditam, eu poderia dizer que percebe-se algum tipo de "energia negativa" que envolve o ambiente. 

"Aqueles que não se lembram do passado estão condenados a repeti-lo". Mas, talvez, este texto, da placa abaixo, que tambem está exposta no museu, sirva de alerta para todos nós...

polonia-oswiecim-placa-de-alerta-site.jpgPlaca de "alerta", exposta no museu

O dia 27 de janeiro é comemorado mundialmente como o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. Desde que a Polônia criou este museu, já recebeu a visita de mais de 30 milhões de pessoas!

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